O Sol nasce todos os dias de forma diferente, o vento nunca nos beija com a mesma vontade nem com a mesma força, os dias nascem e morrem, sempre com indesmentíveis personalidades que os tornam únicos, até os nossos dedos têm uma marca que os distingue a todos, porém, eu quero que tudo se resolva na imutabilidade de um querer, de carregar até ao fim dos dias, como se nada mudasse, como se os cabelos e as rugas não se mexessem, que fôssemos sempre nós de forma permanente.
Quando digo quero, quero que se decrete a vontade na posse da minha absoluta autoridade, da minha independência, do que é meu – um meu de propriedade, registro de notário, força de lei – da minha própria lei.
Travestido da exigência, sem perfumes, que o sabão azul e branco chega, mesmo que me queiras sorver a alma com um pequeno sorriso..
Peço como se desses ordens, declaro as opiniões, regalado no meu próprio silêncio, na minha cegueira.
Vejo a todo o mundo e não me vejo a mim próprio.
Sou mais cego que o obscuro breu dos becos onde nunca entrou um raio de sol..
Abro os olhos, esforço as pupilas, e apenas tu podes ser meu reflexo, meu lago calmo e vítreo que acompanha os meus movimentos, que me serve de eco e me fere os ouvidos.
Antes me calasse. Antes te ouvisse e respondesse a mim próprio com a verdade dolorida das feridas que não me cicatrizam.
Jorge Bicho...